26 agosto 2022

rosa alice branco / amor cão

 


 

 

                                         À medida que o crepúsculo se aproxima
                                               o pavor da noite começou a pesar
                                               intensamente em todos os espíritos.
 
 


3
O que amam sem reservas é o dia, o dia límpido.
Visível como uma clareira no seio do medo.
O medo é a antecipação do crepúsculo, da paixão
sofrida até ao amanhecer como uma prece infindável
e que venha o dia.
Que se ele viesse as notas seriam como o vento
na urze e a urze da montanha era do mar
cheia de cores salinas e cheiro quente a terra
e ela vestida de branco como quem espera
o vestido esvoaçando para o espanto do primeiro olhar.
Ela ia querer que todos os olhares fossem assim
mas nada se sabe do dia, tão escuro ainda
que só a morte espreita para lá da fogueira onde o frio
é um cisco que se imiscui na paisagem do medo.
O chegar do dia é um noivado. Mesmo que um predador
mate de revés uns quantos, podem olhá-lo no rosto
antes da rapina, das aves que cegam o buraco da noite.
 
 
 
rosa alice branco
amor cão
e outras palavras que não adestram
assírio & alvim
2022




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