Tanto quanto é irregular ou excessiva, ora negando
ora exagerando a sua imagem, a primavera de Lisboa, assim em Londres reencontro
o filme límpido da mudança do tempo, o transitório aparentemente eterno.
A luz de um sol que sopra devagar por entre as
pequenas vagas da manhã – e todavia divide e define as imagens do mundo em
perfeitos perfis – fixa as cores, os parques, torna os tijolos brancos.
Na rua de colunas, quando a ondulação da manhã
finda, as casas param por detrás da luz.
O cheiro que vem dos pubs com as portas abertas,
como de um mundo interior que se revela e altera com o ar da tarde, faz-me
subitamente conhecer a identidade de um tempo tão meu como o da face exacta de
Lisboa ou o que nele resta, tempo dentro do tempo, da primavera revelada.
gastão cruz
o pianista
os poemas (1960-2006)
assírio & alvim
2009
Sem comentários:
Enviar um comentário