17 abril 2025

gastão cruz / primavera

 
 
 
Tanto quanto é irregular ou excessiva, ora negando ora exagerando a sua imagem, a primavera de Lisboa, assim em Londres reencontro o filme límpido da mudança do tempo, o transitório aparentemente eterno.
A luz de um sol que sopra devagar por entre as pequenas vagas da manhã – e todavia divide e define as imagens do mundo em perfeitos perfis – fixa as cores, os parques, torna os tijolos brancos.
Na rua de colunas, quando a ondulação da manhã finda, as casas param por detrás da luz.
O cheiro que vem dos pubs com as portas abertas, como de um mundo interior que se revela e altera com o ar da tarde, faz-me subitamente conhecer a identidade de um tempo tão meu como o da face exacta de Lisboa ou o que nele resta, tempo dentro do tempo, da primavera revelada.
 
 
 
gastão cruz
o pianista
os poemas (1960-2006)
assírio & alvim
2009



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