Talvez hoje, de certa maneira,
tenha percebido. Há uma idade
em que acreditamos na poesia,
em que julgamos (coitados
de nós) a única saída possível.
numa «suffering jukebox»
torna-se quase a mesma coisa.
O mundo pede-nos desespero
– e nós tentamos dar-lho.
um fim sem recomeço que teima
em nomear mortos impartilháveis,
versos longos que celebram o luto
de haver versos, de haver morte.
em que tolerávamos poetas
e poemas que cresceram ao contrário,
por nos ser mais próximo o final da noite,
essa morte retórica que nos embebedava tanto.
– na poesia ou noutra merda qualquer
que não viesse sujar o azul das mesas,
esta cor baça que persiste e que
fomos, de comum acordo, dissipando.
falar de idade, sem futuro nem constrangimentos.
(Deixa-me ao menos pagar-te a cerveja.
Começou a chover. É demasiado tarde
para quem nunca esteve aqui
telhados de vidro/12
averno
2009
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