24 outubro 2021

miguel torga / plateia

 
 
Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!
 
Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.
 
E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.
 

 
miguel torga
câmara ardente
1962





2 comentários:

Paula Cruz Roggero disse...

Muy bueno!!!

Unknown disse...

Miguel Torga é, sem dúvidas, um dos melhores de todos os tempos. Que poema incrível!!