05 fevereiro 2021

fernando luís sampaio / cinco portas fechadas

 



 
1.
 
Desceu as pálpebras
Como quem sacode
Uma toalha –
Não havia vinho na mesa
E pão a servir de faqueiro.
 
 
2.
 
O teu nome aparelha
A paisagem percorrida,
Deixa entrelaçada a respiração
E mãos e boca
Desacompanham-se
Quando te vejo às compras
No mercado.
 
E não sabes que no saco
Dos legumes e fruta levas
A luz já extinta
Da minha juventude.
 
Nenhum caminho é
Para depois.
 
 
3.
 
O mundo falha em mim
Porque a noite
É maior do que a língua
Em que falas –
 
Nela misturas escórias
E o laço artilheiro
Que nos serve de fantasia.
 
 
4.
 
A casa como resto da rua – vazia.
No sentido inverso de tudo
Digo o que vai a par
De coisas imaginadas,
E se calha falar da fresca
porcelana é para reter
A luz das mãos do oleiro.
 
 
5.
 
O coração é um detrito da língua.
 
 
 
 
fernando luís sampaio
nervo/10
colectivo de poesia
janeiro/abril 2021




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