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Escrevo
em árabe. Nesta língua, a presença identifica-se com o invisível. O mundo está
aí ausente, embora visível. O homem, segundo esta visão, é um estado continuado
de ausência. A verdade reside no seio da língua enquanto desvendar da essência
do mundo através das palavras de que Deus fez uso. Neste sentido, o próprio ser
é aí uma língua. Os vivos estão adormecidos, hão-de despertar depois da morte. Escrever
poesia nessa língua, e segundo o seu génio, é desvelar o invisível e o abismo
da ausência que nos separa dele. Escrever poesia é prender-se a dizer uma
«coisa», e essa «coisa» em árabe é o próprio abismo e o invisível. Se a poesia
tem algum poder de fundar, funda aqui a presença do invisível. A escrita, em
árabe, ensina apenas que a pátria não é um lugar, que não se situa em parte
nenhuma. Ensina que é ela própria a pátria. Ensinou-me como poderia dizer: o
meu corpo é o meu país.
adonis
arco-íris do
instante
antologia
poética
tradução de nuno júdice
dom quixote
2016
1 comentário:
Os meus frutos derivam de muitos conhecimentos associados à nossa " Pátria Mãe"
Uma boa continuação de poetizar.
Um Abraço de luz.
Megy Maia
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