13 julho 2019

bob dylan / pela quarta vez



Quando ela disse
«Não desperdices as palavras, são só mentiras»
Gritei que era surda
E ela trabalhou-me a face até me amansar os olhos
Depois disse, «Que mais te resta?»
Foi então que me levantei para partir
Mas ela disse, «Não esqueças
Toda a gente deve dar algo em troca
Por algo que recebe»

Fiquei ali em pé e cantarolei baixinho
Dei umas batidas no tambor dela e perguntei-lhe porquê
E ela abotoou a bota
E endireitou o saia-casaco
Depois disse, «Não te armes em engraçadinho»
Então enterrei as minhas mãos nos bolsos
E tacteei com os polegares
E estendi-lhe galantemente
O meu último pedaço de chiclete

Ela pôs-me na rua
Fiquei na sujidade onde toda a gente andava
E depois de me dar conta de que me tinha
Esquecido da camisa
Voltei atrás e bati à porta
Esperei na entrada, ela foi busca-la
E tentei decifrar
Aquela fotografia tua na cadeira de rodas
Que estava encostada contra…

O seu rum jamaicano
E quando ela chegou, pedi-lhe um pouco
Ela disse, «Não, querido»
Eu disse, «As tuas palavras não são claras
Era melhor cuspires o chiclete»

Gritou até a cara lhe ficar toda vermelha
Depois caiu no chão
E eu tapei-a e então
Pensei ir dar uma vista de olhos à gaveta dela

E quando terminei
Enchi o meu sapato
E levei-o até ti
E tu, tu levaste-me para dentro
Amaste-me então
Não perdeste tempo
E eu, eu nunca tomei demasiado
Nunca pedi tua muleta
Agora não peças a minha



bob dylan
canções 1962-2001
volume 1 (1962-1973)
blonde on blonde
trad. angelina barbosa e pedro serrano
relógio d´água
2008






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