Nas ruas das grandes cidades do Brasil
Ninguém carrega consigo uma história.
Os rapazes que se esfregam pelo bar à esquina
Respiram leveza, de camisas brancas
Desabotoadas. Já têm idade para
Gostar de cerveja mas ainda não sentem o barulho
E os escapes dos autocarros parando pela Avenida
Abaixo. E nem sequer vêem os mendigos
Estropiados batendo o passeio largo e sujo.
Porém eles (os rapazes) por vezes dão-lhes
Dinheiro, como se fosse natural, ou mesmo,
Uma vez por outra, uma cerveja. E então eles
(Os mendigos) vão andando de mãos
Estendidas, como se fossem elas
A oferecer a vida ao mundo.
Pago a minha cerveja e vou atrás deles
Na torrente pedestre, onde todos
São exactamente o que eu vejo à luz sem nuvens
Do sol subtropical. Esbarro em alguém
E instintivamente volto-me
Com uma desculpa muda, por sua vez recebida
Pela linguagem universal de olhos e mãos,
Que foi sem querer,
Aconteceu, e eu avanço, perdido
De repente no presente entre tantos como eu.
richard zenith
trad. maria irene ramalho
poesia do mundo/2
edições afrontamento
1998
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