Um dia,
olhando o sol, deu conta de que nele tinha os ossos mergulhados. Era no entanto
impensável proceder a escavações no sol, embora tarde ou cedo a gente acabe por
sentir no coração as escavadoras. Dir-se-ia um sol magnético, capaz de decidir
dos resultados das mais árduas partidas de xadrez. Como se fosse uma das peças,
dir-se-ia, ou como se a luz dele recuperasse através deste uma etimologia
insuspeitada.
Há quem
em si se embrenhe até lhe dar o coração pela cintura – começou ele a escrever então.
Como se a espinha do próprio acto de escrever ficasse à mostra, a mão foi-lhe
emergindo aos poucos do papel.
luís miguel nava
poesia completa (1979-1994)
rebentação
publicações dom quixote
2002
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