19 dezembro 2017

nuno júdice / ofício nocturno



Nos campos onde a neve se estende,
o vento arrasta uma brancura de passos.

Troncos que foram verdes são
braços negros em gestos de pedinte.

Vagueiam almas num desejo de cume,
perdidas, de pensamento preso com a névoa.

Só não sabem a que noite pertencem
os pássaros brancos em busca de rio.

Mas a corrente dorme sob o gelo,
sonhando uma primavera de estuários.

É quando o vidro da janela não devolve
mais do que o próprio rosto de quem espreita;

reflexo que nem a treva aceita,
ocupada em trabalhos de linha e tear.



nuno júdice
a fonte da vida
quetzal
1997





Sem comentários: