06 janeiro 2017

paul éluard / estações



I
O centro do mundo está em toda a parte e em nós

Uma rua ofereceu-se ao sol
Onde se situava ela e qual a sua importância
Na luz suplicante
Do inverno nascido de um amor menor

Do inverno uma criança coisa de nada
Com o seu séquito de andrajos
Com o seu cortejo de pavores
E de pés frios caminhando sobre túmulos

No deserto tépido da rua.


II
O centro do mundo está em nós e em toda a parte

E de súbito a terra bem-vinda
Foi uma rosácea de sorte
Visível com espelhos louros
Em que tudo cantava com a rosa na mão

À folha verde e ao metal branco
Pegajoso de embriaguez e de calor
Ouro sim ouro para brotar do chão
Debaixo da imensa mole humana

Aos pés da vida opressiva e boa


paul éluard
últimos poemas de amor
o duro desejo de durar  1946
trad. maria gabriela llansol
relógio d´água
2002



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