Que é um poeta? Um homem infeliz que esconde
profundas agonias no seu coração, mas cujos lábios estão conformados de tal
modo que, quando o suspiro e o grito por eles fluem, soam como uma bela música.
Passa-se com ele como com os infelizes que eram demoradamente torturados com
fogo brando no touro de Fálaris: os seus gritos não podiam chegar aos ouvidos
do tirano para o aterrorizar – a ele soavam-lhe como uma doce música. E os
homens aglomeram-se em torno do poeta e dizem-lhe: «depressa, canta outra vez»,
[o que] quer
dizer, «que novos sofrimentos martirizem a tua alma e que os lábios continuem a
estar conformados como antes, pois o grito apenas nos angustiaria, mas a música
é encantadora». E vêm os autores de recensões, que dizem: «está correcto, assim
deve ser, de acordo com as regras da estética». Ora, isso percebe-se: também um
autor de recensões se parece com um poeta como duas gotas de água, só não tem
agonias no coração, nem música nos lábios. Eis por que prefiro ser guardador de
porcos em Amagerbro e ser entendido pelos porcos a ser poeta e mal entendido
pelos homens.
s.
kierkegaard
diapsalmata
trad. de bárbara silva, m. jorge de carvalho,
nuno ferro e sara carvalhais
assírio & alvim
2011
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