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debaixo das nuvens e do néon sei que ainda é noite
tu que dormes sou ainda o teu corpo o teu sonho somente
a cada instante existo um pouco mais um pouco menos conforme o teu
[ medo a tua coragem
o teu amor o teu erro
ainda olhas para mim ainda vês alguém no lugar feito para lembrança e
[
esquecimento
preciso de ser ríspido e veloz como um animal correndo para a
transparência
despede-te da mesquinha certeza o barro frio nas mãos
não grites água! água! ao avistar as paredes a folha
ainda agora começas minúscula letra caída no meio da noite neve
e já te vejo toda vestida de memória orgulhosa da tua crueldade
aclamando a luz a luz quando é noite riscada pelos holofotes das
casernas
[
dos campos
contente da tua alimentação de proteínas talhos e esquartejamentos
e a invenção de um deus à mais certa medida
aqui estás já podes mostrar o mais belo centímetro de corpo
vais a caminho de coisa alguma com o mais belo prémio reservado E este
é um poema de amor a louvável ode à tua chegada
vens atrasada e limpa como compete a uma santidade urbana
falando bom francês para este meu país la sous-france
desta vez nenhum touro mais ou menos agrícola te arrasta para o mar
[ Que fazer
se sem razão nenhuma insisto que tua é a noite
não consigo imaginar o inferno vê-lo contudo é fácil
é esta herança deixada pelos homens Duvido chegues a tempo de salvá-la
vale-te da minha ignorância para sair enquanto é tempo
enquanto é de noite e o teu destino incerto
antónio franco alexandre
dos jogos de inverno
poemas
assírio & alvim
1996
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