Encontrei-me iluminado nos telhados,
era vago, era despovoado, era lindo.
Tinha a tristeza de uma cisterna
abandonada por preguiça de outras gerações.
Agora, ainda posso ver o meu choro discreto
quando no meu voo
os olhos grandes me deixam ver o sol em pausa.
Além, mesmo além
— o silêncio regressava aos braços cansados e sábios
para junto dos homens que volviam plácidos.
Além, mesmo além
o silêncio trazia no fundo chamas de queimar deuses e o próprio háli-
to dos deuses.
E queimava, queimava o solo vestido
hora a hora
até que das chamas colhia o segredo da vida e da morte.
Além, mesmo além
vago e despovoado eu caminhava mais um pouco
ainda com neve nos cabelos em ferida.
Que ninguém respire.
A hora não é de respirar,
reconheço.
No meu fato de espectador mal arrumado
exposto à porta de uma paróquia de condenados
não é de respirar,
reconheço.
Mais rei
acompanho a minha antiguidade
que parte nervosa para uma grande viagem.
A meio do dia
tomarei a meu gosto um pouco de moral no sangue.
E quando lá do sonho
os espelhos trouxerem
mar
a chama singular e
franzina
queimará o século e a
fronte,
as sombras dos dedos nos
seios,
os veleiros de
imortalidade
cheios de palmos de
terra,
até que lá do sonho eu
não respire
que a hora não é de
respirar,
eu reconheço.
fernando alves dos santos
a única real tradição viva
antologia da poesia surrealista
portuguesa
perfecto e. cuadrado
assírio & alvim
1998
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