21 março 2014

nuno travanca / o silêncio desta terra



o silêncio desta terra
é inútil e resiste
nas viagens do meu menino
na pupila brilhante e demorada
atenta à raiz de uma lenta origem
que aguarda pela mudança da estação
o silêncio desta terra
é um obscuro e rigoroso exercício
daquele que sonha ainda a profecia
surge à flor da pele por acreditar
a casa inabitada desse ficcionado futuro
enquanto decora a sala de estar
o silêncio desta terra
é feita de homens que de tanto se conhece
os primitivos instintos e alguns conflitos
que impenetráveis acendem o mundo
na arte do desencontro

o silêncio desta terra
coincide com um tempo desacordado
de esquinas dispostas e encerradas em si
com a proibição das escadas
e a memória da impossibilidade
o silêncio desta terra
é sustentado por um vulgar vazio
de olhos escuros e já pouca saliva
cuida da separação dos ossos
e do sentido compreendido do branco
o silêncio desta terra
é translúcido e existe, cumpre-se
em delongadas conversas inócuas
traz com ele a perda e as faltas
sinistras e frágeis emoções
o silêncio desta terra
será cortado em todos os vértices
que na imensidão das vestes
ligam as vozes de semi-acordados esqueletos
e dessa maravilhosa discórdia do silêncio.

rejubilem ó senhoriais do mundo
que o vosso silêncio terá um fim célere
porque na posse do seu verdadeiro íntimo
o homem há-de acordar e vós
um a um cairão por terra, em estrondo.




nuno travanca




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