Se houvesse um campeonato regional
de solidão, eu teria conquistado,
nesse biénio, a medalha de bronze.
Se não acreditam, perguntem aos meus versos.
Enfrentava com graça, nesse tempo,
as temperaturas mais baixas, desde que
tivesse à mão as páginas de um
livro
a cujo discurso arrancava palavras
para aquecer os dedos. Lia toda a noite
com os olhos acesos e quanto mais lia
menos percebia o que havia de querer.
Quem tinha razão era a minha alma: ler muito alto
dá conta da vida, deixamos de saber
apertar os cordões ou o que fazer com as mãos
quando vemos os minutos a cerrar fileiras
e ninguém para cobrir a nossa retirada.
josé miguel silva
vista para um pátio seguido de
desordem
relógio d´água
2003
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