Sou eu, assimétrico, artesão, anterior
- na infância, no inferno.
Desarrumado num retrato em ouro todo aberto.
A luz apoia-se nos planos de ar e água sobrepostos,
e entre eles desenvolvem-se
as matérias.
Trabalho um nome, o meu nome, a dor do sangue,
defronte
da massa inóspita ou da massa
mansa de outros nomes.
Vinhos enxameados, copos, facas, frutos opacos, leves
nomes,
escrevem-nos os dedos ferozes no papel
pouco, próximo. Tudo se purifica: o mundo
e o seu vocabulário. No retrato e no rosto, nas idades em
que,
gramatical, carnalmente, me reparto.
Desequilibro-me para o lado onde trabalha a morte.
O lado em que tudo isto se cala.
herberto helder
poesia toda
do mundo, iv
assírio & alvim
1996
1 comentário:
Puxa, muito bom esse poema! Em especial o verso:
gramatical, carnalmente, me reparto.
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