28 julho 2010

wallace stevens / a casa estava silenciosa e o mundo estava calmo








A casa estava silenciosa e o mundo estava calmo
O leitor tornava-se no livro; e a noite de verão

Era como a essência consciente do livro.
A casa estava silenciosa e o mundo estava calmo.

As palavras eram pronunciadas como se não houvesse livro,
A não ser o leitor inclinado sobre a página,

A desejar inclinar-se, a desejar extremamente ser
O letrado para quem o seu livro é verdadeiro, para quem

A noite de verão é como uma perfeição de pensamento.
A casa estava silenciosa porque assim tinha de estar.

O silêncio fazia parte do sentido, parte do espírito:
Era a perfeição no seu acesso à página.

E o mundo estava calmo. A verdade num mundo calmo
No qual não há outro sentido, a própria verdade

Está calma, ela própria é verão e noite, ela própria
É o leitor em tardia vigília, inclinado, lendo.








wallace stevens
the house was quiet and the world was calm, transport to summer (1947)
vozes da poesia europeia III

traduções de david mourão ferreira
colóquio letras 165
fundação calouste gulbenkian
2003






1 comentário:

Jonathan disse...

Mt bom! Já tinha lido Stevens antes e sempre é bom!