29 outubro 2008

blaise cendrars / prosa do transiberiano e da joaninha de frança







(...)

Do fundo do coração brotam-me lágrimas
Se penso, Amor, na minha amada;
Não passa duma criança, que encontrei
Pálida, imaculada, no fundo dum bordel,
É uma criança, loura, risonha e triste,
Não sorri nem chora;
Mas no fundo dos seus olhos, quando vos deixa beber
Treme um delicado lírio de prata, a flor do poeta.

É meiga e calada, sem nada a apontar,
Estremece à vossa aproximação;
Mas quando eu volto, daqui, dali, da festa,
Ela dá um passo, depois fecha os olhos -
e dá um passo.
Porque ela é o meu amor, e as outras mulheres
Só têm vestidos de ouro sobre grandes corpos
de chamas,
A minha pobre amiga está tão desamparada
Está toda nua, não tem corpo - é demasiado pobre.
É uma flor cândida, delgada,
A flor do poeta, um pobre lírio de prata,
Muito frio, muito só, e já tão seco
Que as lágrimas brotam se penso no seu coração.








blaise cendrars
prosa do transiberiano e da joaninha de frança, excerto
poesia em viagem
trad. liberto cruz
assírio & alvim
1974






3 comentários:

mar disse...

e deste mar entrego-te o prémio dardos que poderás dar aos teus 15 eleitos.

podes ver os dardos aqui: http://edestemar.blogspot.com/2008/10/obrigada-lus-pelo-prmio-dardos-que.html

Anónimo disse...

em que atraso eu vivo, que não conhecia...
Lamento por isso, mas fico feliz por conhecer a partir daqui.
Obrigada. Sempre é um bem contar com este canal. Magnífico.
Um abraço
M.

SPLV disse...

Obrigado por compartilhar!
alguém sabe onde posso achar ou encomendar uma cópia da Prosa do Transiberiano na tradução de Liberto Cruz ? nada no site da A&A ....