14 outubro 2007

papeis selvagens




4

Vi morrer o sol. o centro redondo e os longos raios que, rapidamente se enroscaram.

Saí, caminhei sobre latas, pedras e tartarugas.
No prado, as violetas rodearam-me; os ramos sombrios e azuis.

A meu lado, brotou um ser, do sexo feminino, de quatro ou cinco anos, rosto redondo, escuro, cabelo curto.

Falou numa língua que eu nunca tinha ouvido; mas que entendi.
Perguntou-me se eu realmente existia, se tinha filhas.

Outras, idênticas, surgiram de muitos lados; de entre os ramos caíu, diante de mim, uma paisagem cheia de meninas.

Olhei para o céu, não havia uma estrela, não havia nada.

Recordei antigas fórmulas, disse-as de diversos modos, trocando as sílabas; nada resultou.
Não sei quanto tempo passou, como pude saltar das violetas.
Afastei-me em desespero, entrei, fechei as portas.

Mas já a casa tinha começado a soçobrar.
E ainda hoje, ela baloiça como um barco.





marosa di giorgio
poemas
tradução de rosa alice branco




2 comentários:

José Leite disse...

Linda poesia, cheia de juventude...

Van disse...

Poxa, Gil!
Como você consegue ser tão IRRETOCÁVEL?????

Não há um só nada aqui que eu não adore irremediavelmente!

Beijuca