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11 abril 2023

léo ferré / eu cá sou da raça ferroviária

 



 

[…]
 
     Eu cá sou da raça ferroviária que fica a ver passar as
vacas
     Se não comêssemos as vacas, os carneiros e os restos
     Não conheceríamos nem as vacas, nem os carneiros nem
os restos…
     No fim de contas, criam-nos para nos darem bicadas
     Então, sejamos nós a dá-las!
     Costeleta para duas pessoas, conheces?
 
     Felizmente há a cama: um parque de estacionamento!
     Vens, meu amor?
     E depois, é como na roleta: apostamos, apostamos…
     Se a roleta só tivesse um buraco, obrigavam-nos a apostar
na mesma
     Aliás, é o que fazemos!
     Compreendo os jogadores: têm trinta e cinco possibilidades
de não se deixarem enrabar…
     E deixam, deixam…
     O drama, no casal, é que são dois
     E só há um buraco na roleta…
 
[…]
 
 
léo ferré
il n´y a plus rien / já não há nada
trad. antónio ferreira, luísa mariante e maria paiva
ler devagar
2017





25 março 2019

léo ferré / a desordem é a ordem menos o poder




[…]

A desordem é a ordem menos o poder!

Já não há nada

Sou um preto branco que come graxa
Porque se chateia de ser branco, este preto,
Fartou-se que lhe dissessem: «Branco de merda!»

Em Marselha, a sardinha que entope o porto
Estava recheada de heroína
E os homens-rãs não regressaram…
Libertai as sardinhas
E acabam-se os peixeiros!

Se soubesses o que eu sei
Apontavam-te o dedo na rua
Mais vale então que nada saibas
Assim, ao menos, ficas numa boa, anónimo, Cidadão!

Tens direito, Cidadão, ao mínimo decente
À publicidade das enzimas e do charme
Ao tráfico de dólares e aos traficantes de armas
Que arrastam os jornais na lama e no sangue

[…]


léo ferré
il n´y a plus rien / já não há nada
trad. antónio ferreira, luísa mariante e maria paiva
ler devagar
2017