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13 abril 2013

craig raine / um marciano manda um postal para casa


  

Caxtons são pássaros mecânicos de muitas asas
E alguns são muito apreciados pela coloração -

fazem os olhos derreter-se
ou o corpo gemer de dor.

Nunca vi nenhum voar, mas
às vezes pousam na mão.

Névoa é quando o céu está cansado de voar
e descansa no chão a máquina macia:

então fica o mundo baço e livresco,
como gravuras sob papel de seda.

A chuva é quando a terra é televisão.
Tem a propriedade de tornar as coisas mais escuras.

O Modelo T é um quarto com a fechadura dentro -
dá-se a volta à chave e o mundo fica livre

para o movimento, tão veloz que há um filme
para ver tudo o que passou despercebido.

Mas o tempo está atado ao pulso
ou guardado numa caixa, fazendo um tiquetaque de impaciência.

Em lares, dorme um utensílio assombrado
que ressona quando alguém lhe pega.

Se o fantasma chora, levam-no
aos lábios e sossegam-no com sons

até dormir de novo. E no entanto acordam-no
de propósito, fazendo-lhe cócegas com um dedo.

Só às crianças se permite que sofram
em público. Os adultos vão para um quarto de castigo

com água, mas sem nada de comer.
Fecham a porta à chave e sofrem sozinhos

os barulhos. Ninguém está dispensado,
e a dor de cada um tem um cheiro diferente.

À noite, quando as cores todas morrem,
escondem-se aos pares

e lêem acerca de si próprios
A cores, de pálpebras cerradas. 




craig raine
leituras poemas do inglês
trad. joão ferreira duarte
relógio d´água
1993