30 março 2025

e. m. de melo e castro / aí estás

 
 
 
Aí estás. Solitária entre o pó e os homens,
transposta mas presente, construída
de tão pequenos pensamentos e de tão
leves quase ilusões dos teus sentidos.
 
Aí estás e não nos tens lembranças,
nem te lembramos, nem te esquecemos,
nem a presença em que estás é nossa
e no entanto és tu.
 
Para sempre as nossas mãos são actos
do teu querer.
 
Para sempre os nossos ideais são destroços
de ti.
 
Aí estás.
Para sempre a nossa ignorância
és tu.
 
 
 
e. m. de melo e castro
ignorância da alma (1956)
antologia da novíssima poesia portuguesa
livraria moraes editora
1971
 



 

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