Entre o corpo e o corpo não há nada,
a não ser eu.
Não é um estado,
nem um objecto,
nem um espírito,
nem um facto,
e ainda menos o vazio de um ser,
absolutamente nada de um espírito, nem do espírito,
nem um corpo,
é o eu intransponível.
Mas não um eu,
pois não tenho tal.
Eu não tenho um eu, mas não há senão eu e ninguém,
nenhum encontro possível com o outro,
o que eu sou não tem diferenciação nem oposição possível,
é a intrusão absoluta do meu corpo, por
todo o lado.
antonin artaud
para acabar de vez com o juízo de
deus
e outros textos finais
(1946-1948)
trad. pedro eiras
flop
2019
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