Os olhos são dois, porém muitos.
Um está virado para dentro, mas às vezes farta-se
junta-se ao segundo, capaz de estar
olhos nos olhos, dois a dois, falando sem palavras
Um é feito para se perder em altos céus, prados, águas e montanhas
Um serve para não desviar o olhar, pode chorar, acolhe em si,
compreende
sabe esperar, é um olho que se pousa em cima das criaturas
Um distrai-se, imagina outros mundos, outras possibilidades,
lança-se para além do obstáculo, pulsa, intui
Um diz não, di-lo com força, escolhe, diz agora basta, não
Um é capaz de maravilha, colhe o particular (a vida da poeira
no cone de luz, o olhar do transeunte, a mensagem no muro,
a fadiga da formiga que arrasta migalhas de pão)
Mas também um olho fechado, que conheça a escuridão,
que saiba descansar
E um olho pela solidão, um olho para morrer
Um pelo horizonte
Um para ver pela primeira vez, outra vez
E depois uma boca, que se abre ligeira
a beijá-los todos, a sossega-los, um a um.
alessandra racca
tradução de francesco selva
nervo/3
colectivo de poesia
setembro/dezembro 2018
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