15 dezembro 2016

nuno júdice / fotografia



Ainda me lembro: as dúvidas
que nasciam por entre os teus dedos,
e as tuas mãos que se transformavam em
folhas de uma vegetação abstracta…
Era de manhã, quando o ar frio encrespava
a pele e a humidade batia no rosto
como os fios de uma teia invisível. Era
a hora em que nenhum táxi parava, nem
se podia andar pelos passeios sem
atolar os pés de lama. No café,
porém, um calor nascia no intervalo
de um aquário: o teu amor. E como o peixe
que bate no vidro sem saber para onde ir
andava às voltas, procurando a saída
para te encontrar enquanto tu
sacudias a água dos cabelos e, sem te
importares comigo, sorrias, como
nenhuns outros lábios sabiam sorrir,
até hoje.


nuno júdice
a fonte da vida
quetzal
1997



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