I
O anjo
há três anos atentos o esperávamos
olhando muito perto
os pinheiros a rebentação e as estrelas.
Unindo o gume do arado ou a quilha do barco
procurávamos encontrar de novo a primeira semente
para que recomeçasse o drama antiquíssimo.
Voltámos quebrados a nossas casas
com membros lassos, com a boca decrépita
pelo sabor da ferrugem e da ressalga.
Quando despertámos viajámos para norte, alheios
afundados dentro de névoas das asas imaculadas
dos cisnes que nos
feriam.
Nas noites de inverno enlouquecia-nos o vento forte do le-
vante
Nos verões perdíamo-nos dentro da agonia do dia que não
conseguia expirar.
Trouxemos connosco
estes relevos de uma arte humilde.
yorgos seferis
romance
poemas escolhidos
trad. de joaquim manuel magalhães e nikos pratisinis
relógio d´água
1993
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