18 outubro 2008

luís miguel nava / a saída




Havia no seu corpo uma saída.
Podia através dela ir até onde quisesse, de momento que a porta não ficasse a bater com um ruído que a maior parte das pessoas confundia com o bater do coração. Não consta que o sangue o perseguisse senão muito raramente e mesmo assim não para além da beira-mar.
Trazia há algum tempo na memória um espelho onde quem quer que se abeirasse dele podia contemplar-se. Pelo espelho era possível ver os poços através dos quais a pele desaparece, as ondas momentaneamente imóveis, as areias a assaltar-lhe o coração.





luís miguel nava
poesia completa (1979-1994)
rebentação
publicações dom quixote
2002




1 comentário:

Anónimo disse...

adoro o Nava.

nunca soube e exactamente as circunstancias do seu falecimento...


um abraço, colegas.