02 janeiro 2008

obsessão







Recta, fixa, longa, para lá, diante…
E em memória, ainda,
A corneta agreste
Daquele circo equestre…

- Que vida, meu Deus! Que mundo!
Que dolorosa agonia!

… E muito fria,
(Tão fria!)
Corre a estrada para lá…

Só num desvario profundo
Choram palhaços… Quem ria?

Fria
A rua
Continua.
- Quem vem lá?...

Meu Deus, que festa
Foi esta?
Quem se ria já não está.

Só a noite cai, caindo
Dilúvios de luz de estrela…

- E aquela orquestra
Da festa,
Que mentira foi aquela?

- Pobres palhaços,
Pedaços
De gargalhadas caindo,
Repartindo
Gargalhadas!

… E continua irritante,
De dolorosa e calada,
A fita da mesma estrada
Recta e longa para diante…











antónio pedro
devagar (1929)
antologia poética
editora angelus novus
braga
1998





5 comentários:

fernanda disse...

Gosto muito.
Bom ano.

Chellot disse...

Pobres palhaços, são os únicos que sabem o valor de um sorriso, mesmo sendo um sorriso doloroso.

Beijos tranqüilos.

Mauro Pereira da Silva disse...

Gostei do seu blog, muito criativo. Parabéns. Se tiver um tempinho, visite meu "Quintal". Abraço, Phylos

Anónimo disse...

deixo aqui o meu website de Poesia

www.lusofoniapoetica.com

isabel mendes ferreira disse...

encantada.


com a descoberta deste ESPAÇO.

que devo à Tradução da Memória.


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fico visita.

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bom ano de 2008.