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03 março 2013

sophia de mello breyner andresen / porque




Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

  


sophia de mello breyner andresen
mar novo
1958



24 fevereiro 2013

sophia de mello breyner andresen / pudesse eu




Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes!



sophia de mello breyner andresen


25 abril 2012

sophia de mello breyner andresen / como uma flor vermelha






À sua passagem a noite é vermelha
E a vida que temos parece
Exausta, inútil, alheia.

Ninguém sabe onde vai nem donde vem,
Mas o eco dos seus passos
Enche o ar de caminhos e de espaços
E acorda as ruas mortas.

Então o mistério das coisas estremece
E o desconhecido cresce
Como uma flor vermelha.





sophia de mello breyner andresen
obra poética I
caminho
1999




04 abril 2012

sophia de mello breyner andresen / espero






Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.




sophia de mello b. andresen
obra poética I
caminho
1999


  

22 fevereiro 2012

sophia de mello breyner andresen / o poeta trágico




No princípio era o Labirinto
O secreto palácio do terror calado
Ele trouxe para o exterior o medo
Disse-o na lisura dos pátios no quadrado
De sol de nudez e de confronto
Expôs o medo como um toiro debelado





sophia de mello breyner andresen
arquipélago
dual
caminho
2004




07 janeiro 2011

sophia de mello breyner andresen / através do teu coração






Através do teu coração
............................[ passou um barco
Que não pára de seguir sem
............................[ ti o seu caminho








sophia de mello breyner andresen
navegações
caminho
1996.




02 novembro 2010

sophia de mello breyner andresen / a escrita







No Palácio Mocenigo onde viveu sozinho
Lord Byron usava as grandes salas
Para ver a solidão espelho por espelho
E a beleza das portas quando ninguém
Passava


Escutava os rumores marinhos do silêncio
E o eco perdido de passos num corredor
Longínquo
Amava o liso brilhar do chão polido
E os tectos altos onde se enrolam as sombras
E embora se sentasse numa só cadeira
Gostava de olhar vazias as cadeiras

Sem dúvida ninguém precisa de tanto espaço vital
Mas a escrita exige solidões e desertos

E coisas que se vêem como quem vê outra coisa

Podemos imaginá-lo sentado à sua mesa
Imaginar o alto pescoço espesso
A camisa aberta e branca
O branco do papel as aranhas da escrita
E a luz da vela – como em certos quadros –
Tornando tudo atento





sophia de mello breyner Andresen
ilhas
caminho
2004




02 janeiro 2010

sophia de mello breyner andresen / um pálido inverno







Um pálido inverno escorria nos quartos
Brancos de silêncio como a névoa
Um frio azul brilhava no vidro das janelas
As coisas povoavam os meus dias
Secretas graves nomeadas






sophia de mello bryner andresen
dual
caminho
2004







30 julho 2008

sophia de mello breyner andresen / no tempo dividido






Pelas tuas mãos medi o mundo
E na balança pura dos teus ombros

Pesei o ouro do Sol
E a palidez da Lua.






sophia de mello b. andresen
no tempo dividido
caminho
2003








16 maio 2008

morte






Que triângulo ou círculo poderá cercar-te
Para que te detenhas demorada e minha
Para que não desças toda pela escada






sophia de mello b. andresen
dual
(a casa)
caminho
2004





24 abril 2008

noite de abril






hoje, noite de abril, sem lua,
a minha rua
é outra rua.


talvez por ser mais que nenhuma escura
e bailar o vento leste
a noite de hoje veste
as coisas conhecidas de aventura.


uma rua nova destruiu a rua do costume,
como se sempre nela houvesse este perfume
de vento leste e primavera,
a sombra dos muros espera
alguém que ela conhece.


e às vezes, o silêncio estremece
como se fosse a hora de passar alguém
que só hoje não vem.










sophia de mello b. andresen
obra poética I
caminho
1999


21 fevereiro 2007

em nome







em nome da tua ausência
construí com loucura uma grande casa branca
e ao longo das paredes te chorei








sophia de mello b. andressen
dual I
moraes
1972