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16 fevereiro 2023

oscar wilde / a minha voz

 



 
Neste veloz mundo moderno, inquieto,
Tivemos tudo o que quisemos – eu e tu
E o nosso barco tem agora mastros nus,
E provisões já não nos restam.
 
E, de chorar, minha alegria me abandona,
A minha face empalidece prematura,
A minha boca rubra é curva de amargura,
E a Ruína é o dossel da minha cama.
 
Mas para ti toda esta vida tão repleta
Foi lira só, ou alaúde, ou leve encanto
De violas, ou como quando canta o mar
Que dorme numa concha, e o eco se repete.
 
 
 
oscar wilde
poemas
trad. margarida vale de gato
relógio d´água
2005




17 março 2016

oscar wilde / libertatis sacra fames



Embora seja filho da democracia
    E a Republica seja para mim o bem
    De cada um poder ser Rei, sem que ninguém
Tenha assento sobre os pares, todavia,
Malgrado este moderno afã de Liberdade,
    Melhor é quando Um só governa, e outros seguem,
    Do que deixar que falsos oradores deneguem
Sermos livres, por sua anárquica vontade.
Não gosto, pois, daqueles cujas mãos corruptas
    Arvoram sobre a turba imensa panos rubros
    Sob cujo ignaro mando, sem justiça,
A Arte e a Honra e a Cultura se sepultam;
    Só resta a Traição, com gládio de cobiça,
    E o Assassino com seus pés de sangue mudos.


oscar wilde
poemas
trad. margarida vale de gato
relógio d´água
2005



08 setembro 2011

oscar wilde / o retrato de dorian gray

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Prefácio

O artista é o criador de coisas belas.
Revelar a arte e ocultar o artista é o objectivo da arte.
O crítico é aquele que sabe traduzir de outra maneira ou com material diferente a sua impressão das coisas belas.
A mais alta, assim como a mais baixa, forma de crítica é uma autobiografia.
Aqueles que encontram feias significações nas coisas belas são corruptos sem serem encantadores. É um defeito.
Aqueles que encontram belas significações nas coisas belas são cultos. Para esses há esperança. São os eleitos aqueles para quem as coisas belas apenas significam Beleza.
Não há livros morais nem imorais. Os livros são bem ou mal escritos. Nada mais.
A antipatia do século XIX pelo Realismo é a raiva de Caliban ao ver a sua cara no espelho.
A antipatia do século XIX pelo Romantismo é a raiva de Caliban por não ver a sua cara no espelho.
A vida moral do homem faz parte do assunto do artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito dum meio imperfeito. Nenhum artista deseja provar o que quer que seja. Até as coisas verdadeiras se podem provar.
Nenhum artista tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista é um imperdoável maneirismo de estilo.
O artista nunca é mórbido. O artista pode exprimir tudo.
O pensamento e a linguagem são para o artista instrumento de arte.
O vício e a virtude são para o artista materiais de arte.
Sob o ponto de vista da forma, o tipo de todas as artes é a arte do músico. Sob o ponto de vista do sentimento, o tipo é a profissão de actor.
Toda a arte é ao mesmo tempo superfície e símbolo.
Aqueles que descem além da superfície fazem-no por seu próprio risco.
O mesmo sucede àqueles que lêem o símbolo.
É o espectador, e não a vida, que a arte realmente reflecte.
A diversidade de opiniões sobre uma obra de arte mostra que a obra é nova, complexa e vital.
Quando os críticos divergem, o artista está de acordo consigo mesmo.
Pode-se perdoar a um homem o fazer uma coisa útil, enquanto ele a não admira. A única desculpa que merece quem faz uma coisa inútil é admirá-la intensamente.
Toda a arte é absolutamente inútil.





oscar wilde
o retrato de dorian gray
trad. de januário leite
círculo de leitores
1972
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