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26 julho 2012

leopoldo maria panero / sonho de uma noite de verão






Os homens do viet são tão belos quando morrem.
A água do rio, lambendo as suas pernas, fazia mais sexual
a sua ruína.
Depois vieram as Grandes Chuvas procurando
a vagina esfomeada da selva e apagaram tudo.
Ficou apenas nos lábios a sede da batalha, para nada,
como baba
que cai da boca sem cérebro.
Hoje
que num leito sem árvores nem folhas
com a tua língua desfolhas a árvore do meu sexo
e cai toda a noite o sémen como chuva
e cai toda a noite o sémen como chuva, diz-me
beijando suavemente o túnel do meu ânus,
cova de anaconda que ainda me marca
os ritmos da vida, diz-me o que era, o que é,
o que é um cadáver.




leopoldo maría panero
(espanha, n. 1948)
tradução de joaquim manuel magalhães



11 agosto 2011

leopoldo maría panero / e resta


.
.
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E resta
 
detrás do nada um ofegar tão só
perseguido pelas árvores, perseguido pelos
 
bosques
 
que sussurram ao ouvido palavras obscenas
dizendo não és homem, és
menos que um sussurro.
 
 



leopoldo maria panero
conversação
tradução pedro serra
livros cotovia
2001

.
.
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12 maio 2010

leopoldo maria panero / quem andou na sombra







Quem andou na sombra, como o vento
descalço como se não andasse
como se sob a noite andasse
contente com as estrelas
silencioso como o milagre
de existir ainda, em frente das estrelas
e contra o milagre do ar.







leopoldo maria panero
conversação
tradução pedro serra
livros cotovia
2001






27 junho 2009

leopoldo maría panero / ars magna






O que é a magia, perguntas
numa casa às escuras.
O que é o nada, perguntas,
saindo de casa.
E o que é um homem saindo do nada
e regressando sozinho a casa.






leopoldo maría panero
poesia 1970-1985
visor
madrid
1986





19 março 2009

leopoldo maria panero / conversação




Morrerei em Paris com aguaceiro
são testemunhas os meus ossos umerais
e as minhas omoplatas
” César Vallejo








Caíam e caíam a meus pés generais
e ricos e plebeus
que não quiseram arriscar-se à vida
e todos choravam pela boneca triste
e voltava todos os dias a chorar tremendo
a minha casa
filho do medo, a chorar
pela minha boneca triste.







leopoldo maria panero
conversação
tradução pedro serra
livros cotovia
2001





04 março 2007

a francisco





suave como o perigo atravessaste um dia
com a tua mão impossível a frágil meia-noite
e a tua mão valia a minha vida, e muitas vidas
e os teus lábios quase mudos diziam aquilo que era o pensamento.


passei uma noite colado a ti como a uma árvore de vida
porque era suave como o perigo,
como o perigo de viver de novo.







leopoldo maria panero
last river together
trad. g.s.
1980



12 abril 2006

um poema de: leopoldo maria panero



OS LIVROS caíam sobre a minha máscara (e onde havia um esgar de velho moribundo), e as palavras açoitavam-me e um remoinho de gente gritava contra os livros, assim que os lancei todos à fogueira para que o fogo desfizesse as palavras...

E saiu um fumo azul dizendo adeus aos livros e à minha mão que escreve: “Rumpete libros, ne rumpant anima vestra”: que ardam, pois, os livros nos jardins e nas lixeiras e que se queimem os meus versos sem sair dos meus lábios:

o único imperador é o imperador do gelado, com o seu sorriso tosco, que imita a natureza e seu odor a queijo podre e vinagre. Os seus lábios não falam e ante essa mudez de assombro, caio estático de joelhos, ante o cadáver da poesia.

Leopoldo Marra Panero 1 .03.87



poemas do manicómio de Mondragón
trad. de jorge melícias
ed. alma azul
coimbra 2003