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02 julho 2024

guillaume apollinaire / laços

 




 

 
Cordas feitas de gritos
 
Sons de sinos através da Europa
Séculos enforcados
 
Carris que amarrais nações
Não somos mais que dois ou três homens
Livres de todas as peias
Vamos dar-nos as mãos
 
Violenta chuva que penteia os fumos
Cordas
Cordas tecidas
Cabos submarinos
Torres de Babel transformadas em pontes
 
Aranhas-Pontífices
Todos os apaixonados que um só laço enlaçou
 
Outros laços mais firmes
Brancas estrias de luz
Cordas e Concórdia
 
Escrevo apenas para vos celebrar
Ó sentido ó sentidos caros
Inimigos do recordar
Inimigos do desejar
 
Inimigos da saudade
Inimigos das lágrimas
Inimigos de tudo o que eu amo ainda
 
 
 
guillaume apollinaire
poesia do século xx
(de thomas hardy a c. v. cattaneo)
antologia e tradução de jorge de sena
editorial inova
1978
 




11 novembro 2014

guillaume apollinaire / a ponte mirabeau




Sob esta ponte passa o rio Sena
             e o nosso amor
      lembrança tão pequena
sempre o prazer chegava após a pena

             Chega a noite a hora soa
             vão-se os dias vivo à toa

Mãos dadas nós fiquemos face a face
             enquanto sob
      a ponte dos braços passe
de eternas juras tédio que se enlace

             Chega a noite a hora soa
             vão-se os dias vivo à toa

E vai-se o amor como água corre atenta
             e vai-se o amor
     ai como a vida é tão lenta
e como só a esperança é violenta

            Chega a noite a hora soa
            vão-se os dias vivo à toa

Dias semanas passam à dezena
            nem tempo volta
     nem nosso amor nossa pena
sob esta ponte passa o rio Sena

            Chega a noite a hora soa
            vão-se os dias vivo à toa




guillaume apollinaire
poesia do século xx
(de thomas hardy a c. v. cattaneo)
tradução de jorge de sena
editorial inova
1978