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24 setembro 2012

eduardo garcía / a chuva no deserto





Sob a indiferença e o enfado
oculta-se uma emoção por explorar.
Aí onde há roupa estendida, pratos
sujos, despertadores queixosos,
carros que nos esperam, auto-estradas
inúteis que conduzem ao trabalho,
ao choro de um telefone, aos gestos
vazios que nos estende o hábito,
também rompe  o feitiço da luz,
a sua voz debaixo da pele flui devagar.
Ouve como soam nesta página
os seus corcéis de vento, as suas promessas.




eduardo garcía
poesia espanhola, anos 90
trad. de joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000





16 julho 2012

eduardo garcía / quando a pele


  


Sou frágil nas tuas mãos, sou papel,
e quando o mar se lança e se retira
sinto o furor calado das constelações,
a fuga das feras no jardim em chamas,
o clamor das aves se amanhece.
Então somos mais que duas figuras
que o combate conduz ao esquecimento.
Somos o mar, a terra que perdura,
o seu pulsar animal, um estertor
ditoso que nos traz a estas paredes.
Os humildes objectos sorriem-nos.




eduardo garcía
poesia espanhola, anos 90
trad. de joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000