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22 abril 2025

denise levertov / noblesse oblige



 

 
Com grande clareza, grande exactidão, hoje
a montanha mostra-se
em toda a sua altitude, num apurado entendimento
do fôlego. Parece
mais próxima do que é costume;
ainda assim mantém
uma grandeza solitária, incontestada:
esta proximidade franca,
este modo de anunciar a primavera
enfim chegada, este cerimonioso
desnudar de seios nevados, como se
braços se espraiassem, não é
querer a intimidade.
                            (Entretanto
                       o sol de Abril, ainda frio,
                       floriu as pequenas margaridas,
                       tantas e humildes que se fazem espezinhar –
                       e que importa? Há em cada flor
                       a forma de uma gargalhada.)
A montanha prossegue graciosa
o seu sóbrio desvelamento.
 
 
 
denise levertov
este grande não-saber
trad. andreia c. faria e bruno m. silva
flâneur
2021







 

14 abril 2021

denise levertov / mês veloz

 
 
O espírito de cada dia passa, cabisbaixo
sob o vento, braços cruzados.
ambíguos irmão daquelas idealizadas
“filhas do Tempo”, nem dons nem escárnio
proferindo, as mãos prendendo
os cotovelos, escondidas em mangas largas
de túnicas cor de sombra. Dia após dia
e nenhuma em demoras, a cadência do seu passo
sem pressa, e ainda assim veloz, demasiado veloz.
 
 
denise levertov
este grande não-saber
trad. andreia c. faria e bruno m. silva
flâneur
2021