Eram telas meditadas no exílio, na sofreguidão
azul das ilhas negras, pequenos vasos, fragmentos
de poemas onde os pórticos celebravam. Lentamente
os processos de impiedade foram florescendo na
grécia. E vi Aspásia exilada, corroída por um
choro ancestral, as suas vestes manchadas pelo
sangue escuro da desolação. Eram estes seres de
azuladas mãos, manejavam à estranha luz
tranquilos manuscritos, compunham a dolorosa
condenação dos mundos loucamente. Esculpiam
os talentosos mármores, planeavam nos
cérebros uma leve ascensão. O sorriso de Fídias
era finalmente coberto por folhas amarelecidas,
pelo orvalho, pelo vestido dos invernos, a neve
negra do interior do país, em montanhosas
maldições. Fídias olhava longamente a noite
como se ela fosse a ágora de Rodes. E, na
triste vastidão das águas pálidas, permanecia
deitado sobre a estrada, numa atitude escura.
Recordo-me que tomei o caminho das antigas
Arenas e sobre o pensamento desses lugares
tinham pousado uma doce e vingativa máscara
de tragédia. Então lembrei Sófocles escrevendo
lentamente, ouvindo a voz branca do demónio
que o habitara, longe, nesse tempo, instante
envelhecendo as colunas de um pó breve, a
decadência rubra dos recortes da costa, dos
litorais onde se decompunham sob o sol as tessálicas
palavras.
ossos de sépia
ossuário (ou: a vida de james whistler)
língua morta
2022
Sem comentários:
Enviar um comentário