SAÍMOS os três da casa de G.. E fomos esperar um
autocarro. Ele disse-me: há-de vir a nossa casa. E ela ficou calada.
Têm uma casa nova, encantadora, oiço dizer, onde
recebem a nata das letras, política e artes, onde deram e darão grandes saraus,
etc.. Mas porque havia eu de ir a casa deles, se até aqui nunca de mim se
lembraram? Conhecemo-nos há trinta anos, perto ou certo.
E nunca me retribuíram um certo convite, feito e
aceite há dezoito, em que lhes ofereci um jantar de galinha… Ou então, ele mo
quis pagar ontem: ao que ela ainda se recusou.
Nesse tal dia, ou noite, tão recuados! ela,
preciosa, desdenhosa, dizia com aquela graça franca de quem se sente fora do
seu ambiente, desnivelada: e eu que detesto canja! tudo o que cheire a galinha…
Uma mulher encantadora, natural, amável, sociável e
caprichosa: com isto se diz tudo.
irene lisboa
1949 a 1957
solidão II
portugália editora
1966
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