20 julho 2024

jaime rocha / zona de caça

 



 

36.
 
É o tempo das cinzas. O tempo em que os pagens
procuram o rasto nos espelhos. O tempo do choro.
O corpo da mulher regressa para a luz e eles
caminham nessa direcção, indiferentes aos gestos
e à música. Os seus pés são feitos de chumbo, secam
junto aos muros para que as plantas cresçam e a
mulher se possa deitar enquanto a lua percorre
o seu ciclo de nudez. O cavaleiro contempla a morte,
uma árvore quieta entre dois cabeços, um pombo
com uma asa ferida, comendo a própria cria. Tudo
se resume a pedras deixadas por um deus anterior
e entre elas uma zona de uvas, um átrio, uma
morada onde ela poisa os cabelos sem se magoar.
 
 
 
jaime rocha
zona de caça
relógio d´água
2002
 



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