28 junho 2024

júlio pomar / explicação aos que já sabem



 
 
          A invenção da palavra não tem data
nem número de registo.
A palavra inventa e inventa-se cada dia e é isso que
à falta de melhor se chama poesia.
 
“À falta de melhor” é critério
manhoso de quem não teve
sempre o necessário e passa o tempo
a busca-lo no que mais se aproxima.
 
Tiro de zagalote ou granada, a poesia mina
cada estilhaço
da via sacra dos significados
e não há contraceptivo que a proteja.
 
Aprendeu a poesia à mesa do bilhar
ao levar as bolas a tocarem-se
quando para isso
desejo e arte andarem de mão dada.
 
Troque-se as bolas por coisas ou palavras e
siga a banda! a compor com os limites porque tudo é música
e, afinados os trompetes, tire-se
de coisas e palavras
 
 
a mistura explosiva.
 
 
 
júlio pomar
poema TRATAdoDITOeFEITO
dom quixote
2004
 




 

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