pela hora da consulta, a mesma hora a bater nas outras horas. se me perguntam as horas, não sei. sei no entanto que nos consultamos em horários precisos, dizem que biológicos. e todos sabemos que inevitavelmente umas horas batem nas outras. eu não digo que se digam vergonhas umas às outras, digo antes que não sendo violentas vão matando, a torto e a direito. chegou a hora dele, disseram-me o outro dia. eu ainda acordado, perguntava-me por quem seria, e se seria. ele era portanto o morto. e ao morto diz-se que lhe chegou a hora. outros então perguntam-se as horas uns aos outros. compreendem... é normal que as horas batam umas nas outras e que a hora da consulta seja essa mesma hora em que a porta se abre. depois da porta, semicerrada, tal é a dor, vem a bata branca e os senhores musculados com vestuário algo rústico e absolutamente romântico, cheio de fivelas, de amor, de força. pela hora da consulta, já o tempo se tinha ido. permanecia uma cama, muitos géneros multi-raciais e instáveis, que entre barulhos estranhos e acessos de fúria lá me iam dizendo as horas, quando eu não perguntava. um dia visitaram-me homens distintos. sabem, depois de algumas muitas horas paradas com rotinas que se resguardavam a músculo e a grades, tendemos a pensar que realmente estamos no sítio certo e tudo o que nos apareceria naturalmente, como as gravatas esculpidas em pescoços pós-modernos, seguidos de fato, nada mais era do que gente distinta à hora da visita. foram dizendo que apreciavam bastante o meu trabalho e que pretendiam expôr-me a olhares entendidos ou até mesmo desentendidos, mas com bolsos recheados. fizeram-me também acreditar que assinando um papel, tudo iria mudar. assinei, não sei bem se o meu nome ou se uma hora que chegara, mas qualquer uma das duas não me deu de volta a percepção ou a liberdade de movimentos. diz quem sabe, e quem sabe são os senhores musculados, que era hora da minha injecção. nunca tinha levado nenhuma letal. ainda perguntei entredentes que horas eram aquelas, mas deve ter-se passado qualquer coisa com os meus ouvidos porque deixei de ouvir. aliás, não foi a única coisa que deixei de fazer.
nuno travanca
2 comentários:
vestiário
do Lat. vestiariu
s. m.,
aquele que tem a seu cargo a rouparia de uma corporação;
vestiaria;
lugar onde se trocam ou guardam fatos;
compartimento onde alunos, praticantes de uma modalidade desportiva, funcionários de uma empresa vestem ou despem certas peças de vestuário;
gabinete onde os magistrados guardam as suas vestes profissionais;
local onde se deixam a guardar bengalas, chapéus, etc. , em certos edifícios públicos, associações, teatros, etc. ;
ant.,
inspector de vestiários.
:)
onde se lê vestiário deve ler-se vestuário.
obrigado pelo reparo, diangellis. de facto passou-me.
nuno travanca
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