09 outubro 2004

quatro estações #crónicas de outono


expressão
não preciso de me exprimir. nada tenho a perguntar ou a afirmar. se fosse possível, parava. no veludo do silêncio, na aresta do tempo, parava. esperava na curva do desejo o crescer do deserto. e morria eternamente. como se uma estação cósmica me atravessasse. um outono cósmico. gostava que fosse um outono infinito. que mundos nascessem e se extinguissem no tempo de me cair uma folha. gostava de me queimar nessa luz muda e impossível. como um faraó. ou como a areia que o vento amarrou às pedras da história.

já me esqueci de todas as casas. estou na sombra que precede essa hipótese de loucura. só sei que há nós que se desatam e que à minha volta se soltam as linhas onde se escondem as paisagens.



gil t. sousa

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