Ouves-te a caminhar pela neve.
Ouves a ausência dos pássaros.
Uma quietude tão completa, que ouves
o sussurrar dentro de ti. Sozinho,
manhã após manhã, e mais nada
à noite. Dizem que nascemos sós,
para vivermos e morrermos sós. Mas estão errados.
Ficamos sós pelo tempo, por sorte,
ou por infortúnio. Quando, para o libertar,
acerto no cepo congelado na pilha de lenha,
emite um som de perfeita desumanidade,
que, puro, atravessa o vale,
como um corvo a grasnar inesperadamente
no recanto mais sombrio do crepúsculo que me
desperta a meio de uma vida. O preto
e branco de mim entrosados com esta indiferente
paisagem de Inverno. Penso na lua
a surgir num instante para encontrar o branco
entre os pinheiros sem cor.
deixem-me ser ambos
trad. leonor castro nunes e marcos pereira
destrauss
2020
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