25 dezembro 2025

nuno júdice / se, numa noite de natal, a prostituta

  
 
vagueia, no passeio da avenida deserta,
procurando o encontro que não se dá,
e fixa os olhos na luz de uma lâmpada incerta
como se a manhã estivesse ali, agora e já,
 
que mais pode fazer quem por ela passa,
fingindo que não a vê ou a sua presença esquece,
do que apagar a névoa que a sua passagem traça
no espírito que por instantes estremece
 
– a não ser que a sua imagem insista, ainda,
quando o sol tudo tiver finalmente apagado;
que a noite não seja só uma memória finda
 
no canto sombrio de um desencontro adiado;
e que os seus passos não se ouçam, por dentro,
numa inquietação de quem não encontra o centro.
 
 
 
nuno júdice
a fonte da vida
quetzal
1997




 

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