29 julho 2025

manuel de castro / a voz quase silêncio

  
vai-se perdendo a voz quase silêncio
um corpo agora oco     gasto     frio
a morte é uma cor que foi escolhida
para encontrar a direcção do vento
 
o homem que foi um feto      que foi um peixe
que foi o ar     que foi o sangue e o gesto
atravessa o mar com círculos nos braços
possuído no seu próprio destino
na descoberta dos focos submarinos
 
ao nível das estrelas mais brilhantes
e no entanto desde há muito extintas
pode encontrar-se o grande amor final
pesar-se no seu som e qualidade
 
garganta de alcatrão fundente
vai-se perdendo a voz, quase silêncio
 
                 do livro «A estrela rutilante» (1960)
 
 
 
manuel de castro
antologia da novíssima poesia português
m. alberta menéres, e. m. de melo e castro
moraes editora
1971
 


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