21 dezembro 2016
rené char / partilha formal
06 junho 2016
rené char / força clemente
18 abril 2016
rené char / partilha formal
14 novembro 2015
rené char / um pássaro
08 janeiro 2015
rené char / ensinou-me a voar sobre a noite das palavras
05 agosto 2014
rené char / o inofensivo
31 março 2014
rené char / a companheira do cesteiro
03 julho 2013
rené char / não se entende
04 maio 2012
rené char / juventude
16 fevereiro 2012
rené char / declarar o seu nome
10 novembro 2011
rené char / o barulho do fósforo
16 setembro 2011
rené char / bruscamente…
10 maio 2010
rené char / folhas de hipno 16
O entendimento com o anjo, nossa primordial preocupação.
(Anjo, o que, no interior do homem, se mantém à margem do compromisso religioso, a palavra do mais alto silêncio, a significação de valor incalculável. Afinador de pulmões que doura os cachos vitaminados do impossível. Conhece o sangue, ignora o celeste. Anjo: a vela que se debruça a norte do coração.)
rené char
furor e mistério
trad. margarida vale de gato
relógio de água
2000
22 outubro 2009
rené char / alívio
“Eu vagueava no ouro do vento,
declinando o refúgio das aldeias
onde o meu coração fora violentamente despedaçado.
Da dispersa torrente da vida estagnada extraíra eu o leal significado de Irene.
A beleza desfraldava-se
do seu fantasioso invólucro,
dava rosas às fontes."
A neve surpreendeu-o.
Ele debruçou-se sobre o rosto aniquilado,
bebeu dele a superstição em longos tragos.
Depois afastou-se,
movido pela perseverança daquele marulho,
daquela lã.
rené char
furor e mistério
trad. margarida vale de gato
relógio de água
2000
29 julho 2008
rené char / partilha formal
XL
Atravessar com o poema a pastoral dos desertos, o sacrifício às fúrias, o fogo bolorento das lágrimas. Correr atrás dele, implorar-lhe, injuriá-lo. Identificá-lo como sendo a expressão do nosso génio ou ainda o ovário esmagado da nossa penúria. Por uma noite irromper atrás dele, finalmente, nas núpcias da romã cósmica.
rené char
furor e mistério
trad. margarida vale de gato
relógio de água
2000
05 outubro 2007
folhas de hipno
222
Minha raposa,
pousa a tua cabeça sobre os meus joelhos.
Eu não sou feliz e no entanto tu bastas.
Castiçal ou meteoro,
já não há na terra coração grande ou futuro.
Os passos do crepúsculo revelam o teu murmúrio,
albergue de hortelã e alecrim,
confidência trocada entre as sardas do Outono
e o teu vestido ligeiro.
És a alma da montanha com profundos flancos,
com rochas mudas por trás de lábios de argila.
Que estremeçam as tuas narinas.
Que a tua mão feche o caminho
e aproxime a cortina das árvores.
Minha raposa,
na presença dos dois astros,
o gelo e vento,
deposito em ti todas as esperanças desmoronadas,
por um cardo
que vença a solidão rapace.
rené char
furor e mistério
trad. margarida vale de gato
relógio de água
2000
03 julho 2007
diz...
diz aquilo que o fogo hesita dizer,
sol do ar, claridade que ousa,
e morre porque o disseste por todos.
rené char
furor e mistério
trad. margarida vale de gato
relógio de água
2000
05 agosto 2006
um poema de: rené char
O Verão cantava sobre a sua rocha preferida
quando tu me apareceste,
o Verão cantava afastado de nós
que éramos silêncio,
simpatia,
liberdade triste,
mar
mais ainda do que o mar,
cuja enorme comporta azul
brincava aos nossos pés.
O Verão cantava
e o teu coração nadava longe dele.
Eu beijava a tua coragem,
entendia a tua perturbação.
Estrada através do absoluto das vagas
em direcção a esses altos picos de escuma
onde navegam virtudes assassinas
para as mãos que seguram as nossas casas.
Não éramos crédulos.
Éramos rodeados.
Os anos passaram.
As tempestades morreram.
O mundo partiu.
Sofria
por sentir que era o teu coração que já não me conhecia.
Eu amava-te.
Na minha ausência de rosto e no meu vazio de felicidade.
Eu amava-te,
mudando em tudo,
fiel a ti.
rené char
furor e mistério
trad. margarida vale de gato
relógio de água
2000