O ainda-conheido
profissionalmente
arruma a sua mão direita
no meu ombro esquerdo
profissionalmente
desarticula-se jubiloso
em frases mensageiras
– Deixa-te disso meu rapaz…
a vida são dois dias!
O que é preciso é esfolar…
esfolar seja o que for,
esfolar – percebes?...
E eu não percebi.
O agora-camarada
profissionalmente
em calores clandestinos
de olhadelas-antes
profissionalmente
revoluciona-se em arco
numa máxima bem quente
– Isto qualquer dia vira-se…
ai vira-se?
O que é preciso é ter olho,
olho – percebes?
E eu não percebi.
O já-amigo
profissionalmente
em palmadinhas cultas
nos meus ombros
profissionalmente
modela símbolos
de sabidas vitórias
– Eu também já fui assim…
mas isso passa-te!
É questão de tempo,
de tempo – percebes?
E eu não percebi.
Os olhos do
ainda-agora-já
conhecido-camarada-amigo
profissionalmente
procuram as casas dos meus botões
E eu que nas casas
tinha os botões meus
por causa das correntes de ar
saldo a viagem
do ainda-agora-já
conhecido-camarada-amigo.
E ainda-agora-já
conhecido-camarada-amigo
sem olhos de viagem
sem casas de botões
com botões nas casas
dispara o adeuzinho final
glacé e de bom gosto
–É pá tens a mania…
deves ser bestial!
Mas eu não te percebo,
não te percebo – percebes?...
E eu não percebi.
marcelino vespeira
a única real tradição viva
antologia da poesia surrealista
portuguesa
perfecto e. cuadrado
assírio & alvim
1998