São de morte estes corvos ao voarem
De encontro aos negros muros, ao telhado,
São de morte as mulheres ao amarem
Como quem preparasse um refogado.
De morte as ruas sujas e mesquinhas
Com nomes tão sonantes e tão fortes,
O olival, que abraça o mar, as vinhas,
E até o próprio sol, morte entre as mortes.
De morte o inspector que quer levar
Para análise a dose ..."ilegal".
Na varanda os jacintos a espreitar
E o mestre escola lendo o seu jornal.
Da guarda o pelotão no forte branco,
Domingo toca a banda no coreto.
Com "dracmas trinta" abri conta no banco,
Fui hoje lá buscar a caderneta.
Vais pelo molhe e pensas devagar:
"Será que sou?" E dizes: "Não, não és."
Chega o barco, a bandeira a tremular.
Vem decerto o prefeito no convés.
Ai se ao menos por tédio um habitante
Se deixasse morrer neste desterro,
Para toda a gente ir, grave o semblante,
Negro o luto, entreter-se no enterro.
kostas kariotákis
tradução de manuel resende