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Teremos de partir, disseram as raparigas do circo,
E nunca mais voltaremos. Não há público bastante
Nesta cidadezinha. À espera contra o céu negro e azul,
Os grandes carros do circo levaram-nas para as suas entradas.
A luz esmoreceu sobre as colinas onde a caravana do circo desapareceu.
Por baixo dos vestidos as raparigas do circo transpiravam,
Mas então, com a malha cor de laranja cingida ao corpo, uma delas
Falou com olhos azuis, era jovem e linda, loira
De olhos brilhantes, falou com a boca aberta ao espirrar
Levemente contra as costas das outras raparigas que esperavam em fila,
Para rodarem a corda, ou descerem rodopiando presas pelos dentes,
E disse que o circo poderia partir - havia cartazes vermelhos
Colados ao exterior da caravana, estava a começar a
Chover - disse que poderia partir mas nunca o seu coração partiria,
Não daquela cidade, mas mesmo de qualquer outra onde tivessem estado,
arriscando a
vida,
E cada um desses lugares onde estiveram devia ser festejado pelo azul
rosmaninho
Num canteiro da cidade. Mas elas riram, raparigas do circo agarradas
Umas às outras enquanto a caravana se lançava pela noite.
kenneth koch
a magia dos números e outros
poemas
trad. antónio franco alexandre
quetzal
1992