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15 setembro 2024

judite canha fernandes / abril



 

 
já estivemos apaixonados
por tua longa cabeça de orquídea
e pelo banho de gozo
de tuas construções aéreas.
 
abril
acho que nos esquecemos
das ruas sem vigia
da tua coragem.
dos corpos loucos               invencíveis
de astronautas apavorados com a carta astral da libertação.
 
entre nossas mãos de areia,
o pequeno umbigo de mareantes
que por um breve dia                fez corar de vergonha
todas as espingardas do mundo.
 
 
 
judite canha fernandes
carta de amor ao pesadelo
editora urutau
2023
 



 

13 agosto 2020

judite canha fernandes / sem título



dois dentes de leão
fundidos em seus pequenos fios brancos
passaram a voar
e sumiram
mais altos do que as fábricas



judite canha fernandes
podemos amar ou podemos
editora urutau
2019









26 outubro 2019

judite canha fernandes / podemos amar ou podemos



se eu partir
permanecerás
incólume
levando-me dentro

se eu ficar
seremos o líquido em movimento que alimenta o perene jardim

aceitemos a morte e a vida num grão de areia




judite canha fernandes
podemos amar ou podemos
editora urutau
2019



14 setembro 2018

judite canha fernandes / férias é







perceber que quando o sol se tapa o mar escurece

ter tempo

ver as sombras no tecto, a efervescência das palavras,
as árvores a tentar respirar contra o vento, coitadas
fazer festas aos cucos, namoriscar os pássaros,
ter ideias boas.
fazer testes ao vácuo,
observar a consistência da alegria,
escrever palavras ao acaso.
mergulhar.
processar as dores, a estupefacção com a crueldade e a ganância,
perceber apenas o medo, apenas.

observar calada a tua alegria de flor pelas vitórias inacabadas.

ver filmes a meio do dia com uma manta nas pernas
comer porcarias e chocolates
não sentir culpa nenhuma.

andar.

deixar o mundo andar sem olhar para ele
(ele anda sozinho)

olhar para o que não se vê
não ter raiva do inverno nem da chuva,
saber que a utopia anda às elipses como boa tartaruga.
dar beijos à luta para não esquecer o sabor que ela tem,
dançar.
não usar vendas no cérebro ou no coração,
não dizer “sim, mas…”.

perder-se no meio de um livro para encontrar outro
deixar para amanhã o que se pode fazer hoje.

escrever com as mãos geladas nas esplanadas
não ter medo que as esplanadas voem,
ou de lavar o caderno nas lágrimas.

pensar, escrever cartas, não pensar.

perceber que o vento assobia no pescoço antes de entrar nas
nas orelhas,
que se pode chorar de prazer quando se ri,
qual o tamanho do ecrã na casa.

dizer adeus e ficar dentro das pessoas.
falar com quem se gosta sem ver.
dançar com a música em mute.
deitar-se devagarinho.

férias, meu amor, é bom.




judite canha fernandes
o mais dofícil do capitalismo
é encontrar o sítio onde pôr as bombas
editora urutau
2018