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27 janeiro 2009

jude stéfan / envio









Eles passam através dos nossos anos
eles perscrutam o fundo dos poços
eles sabem que estão mortos
e vão contemplar o mar
eles exilam-se nos animais
prestam atenção às coisas
e fazem falar as pedras
do seu posto de vigia
eles descrevem as batalhas
e acusam o tempo
eles cantam a loucura
a sua ciência é inovar
eles usam a irrisão
eles sofrem solidão
eles criticam a morte
eles abreviam a sua vida
quando se esgotam as palavras
inclinam-se no ventre das mulheres
têm inveja das nuvens
que se dispersam
e não colhem as flores
convivem com as estações
e saboreiam cada mês
eles procuram o poema
e bebem o vinho novo
eles amam o olvido, a sombra
e estão longe dos amigos
percorrendo as rotas de sede
visitando as divindades
eles assombram outros lugares
e desenham a chuva,
mostrando a vaidade do bem
surpreendem-se, abandonam-se
abraçam a preguiça sobre as camas
afirmam em vez de dizerem
eles contemplam os ratos sob a lua
e naufragam na última manhã







jude stéfan
sud-express poesia francesa de hoje
trad. gastão cruz
relógio d' água
1993